quinta-feira, março 24, 2011

Tudo o que eu quis dizer e não consegui traduzir para a escrita

Pela mão da Pipoca Mais Doce

"Sou apartidária

Serve a afirmação acima para justificar o que vem de seguida e para me pouparem a frases feitas, do género “só dizes isso porque és de direita” ou “só dizes isso porque és de esquerda”, ou ainda um “tu queres é tacho”. Desde que voto, o meu espectro eleitoral já foi do PSD ao PC. Mais do que votar em partidos, voto em pessoas, em características, em personalidades. Inocente? Talvez, mas cada tem um o seu critério de votação e este é o meu. Não sinto devoção para com nenhum partido, não acho que só por ser PS ou PSD então é brilhante, não tenho paixão por um partido como tenho por um clube. E ainda bem, que paixão e política são coisas que não combinam. Ontem assisti com alguma incredulidade ao discurso de vitimização do PS. Desde o Kalimero que não via alguém a sentir-se tão injustiçado com a vida. Cheirou-me a chantagem da grossa, que é coisa que me dá enjoos tão violentos como os que as grávidas devem sentir. Para o Engº Sócrates e para o PS em geral, agora é que a crise vai começar. Agora é que o caldo entornou de vez. Agora é que o País vai por água abaixo. E a culpa é de quem? Da oposição, claro, esses malandros que lhes tiraram o brinquedo das mãos (e por brinquedo leia-se o poder). A palavra que mais ouvi ontem foi "responsabilidade". Mas uma responsabilidade que se sacode para cima dos outros, em vez de se assumir como nossa. Agora é que a crise vai começar? Mas, esperem lá, não estávamos já em crise? Ou tudo correu bem nos últimos anos de governação PS? Só ontem, depois do chumbo do PEC no Hemiclico, é que o país entrou entrou em crise? Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, dizia em entrevista à TSF (com um tom que parecia que ia começar a distribuir tabefes a qualquer altura), que a crise era "totalmente responsabilidade da decisão da oposição em vetar o PEC". Oi? Perdão? É que eu ia jurar que já há uns meses (anos?) que andávamos a ouvir falar de crise. E da possível entrada do FMI. E das taxas de rating. E do endividamento. E dos cortes em tudo e mais alguma coisa. E por isto tudo, ninguém se responsabiliza? Quantos mais PECs era suposto a oposição aceitar para evitar o inevitável? Põe-se o ónus da culpa nos outros, para não termos de dizer que a culpa também é nossa, numa atitude completamente autista. Senti que me estavam a deitar areia para os olhos, a tratar por estúpida: "Atenção, portugueses, que a culpa não é nossa que temos estado a governar o País nos últimos seis anos. Não! O País vai começar a afundar-se e a culpa é destes senhores da oposição que não nos deixaram continuar a fazer o nosso trabalho, que estava a ser para cima de exemplar! Um mimo de governação! Por isso, não vão em cantigas e votem de novo em nós, para podermos continuar o que começámos.". Ora, ide-vos todos fod*r, sim? Haja falta de tudo para se vir dizer que estava tudo a correr lindamente, que não ia ser preciso recorrer à ajuda externa, que o País caminhava no bom sentido. Mas só até ontem, claro, porque agora não há volta a dar. Foi a oposição, e mais ninguém, que lançou Portugal para o caos, por isso agora aguentem-se à bronca. Tenho pena que esta tenha sido a forma mais original que o Governo arranjou para tentar sair em alta. Não saiu. Fica-se só com a ideia que vivemos num imenso jardim infantil em que se aponta o dedo ao miúdo do lado quando se pergunta quem partiu a jarra. Mesmo que tenhamos os cacos na mão."

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